O número de mulheres atuantes na medicina veterinária vem crescendo progressivamente, representando 55% do total de profissionais da área, nos EUA, e aproximadamente 50,8% do total de médicos veterinários, no Brasil. A maioria dos estudantes que ingressam na medicina veterinária nos EUA é mulher, portanto, estima-se que a proporção de mulheres atuantes na profissão de medicina veterinária aumentará.
Fatores que estão favorecendo o aumento de mulheres na medicina veterinária
Antigamente, a presença da mulher era praticamente inexistente em cursos universitários e a primeira mulher diplomada em medicina veterinária, Dra. Nair Eugenia Lobo, aconteceu 14 anos após a formação do primeiro veterinário brasileiro. Felizmente, esse cenário mudou e encontramos mais colegas mulheres não só nas universidades de medicina veterinária, como em outros cursos.
Além disso, os objetivos da profissão de medicina veterinária eram somente voltados para saúde e bem-estar humanos, tratando o animal como uma utilidade. Esse cenário tem mudado, e a importância do papel da medicina na profissão tem aumentado gradualmente. Animais não-humanos estão se tornando parte da família humana e consequentemente, promover a saúde animal para o bem-estar do animal não-humano se tornou um dos alicerces da medicina veterinária. Mulheres são estimuladas a escolherem profissões que estão relacionadas com atividades de “cuidar” e assim, observa-se uma grande proporção de mulheres atuantes na área de saúde. Muito provavelmente, as mudanças no currículo que deram mais destaque ao “ato de cuidar” tem atraído mais as mulheres, acarretando no aumento crescente de número médicas veterinárias. Para saber mais sobre mudanças no currículo da medicina veterinária, leia o texto “O paradoxo da Medicina Veterinária“.
Outro fator pouco debatido é o vínculo da produção da carne com a manutenção da virilidade, quesito que atrai mais os homens (leia a “A política sexual da carne“). De acordo com nosso banco de dados, só 13% das pessoas que se consideram veganos, ou vegetarianos, ou simpatizantes na veterinária são homens.
Diferença salarial entre mulheres e homens na medicina veterinária
Apesar da porcentagem de profissionais homens e mulheres ser muito parecida, um estudo publicado em 2013 mostrou haver, nos EUA, uma grande diferença entre os salários pagos aos médicos veterinários e aqueles pagos às médicas veterinárias empregados tanto no setor público como no setor privado. As colegas ganham, em média, 24 mil dólares/ano menos que os colegas! Nos EUA, observa-se que a diferença salarial se torna mais agravante com o tempo de profissão e esse fenômeno ocorre em todos os setores. Um estudo realizado com veterinários no Reino Unido também mostrou que médicas veterinárias recebem menos que seus colegas e que a diferença salarial aumenta com o tempo de experiência e atuação.
Isso não é surpresa, uma vez que tal disparidade salarial também ocorre em outros setores. Atrizes de Hollywood, cientistas e executivas, entre outras profissionais, ganham menos que seus colegas ocupando cargos equivalentes. No Brasil, a diferença salarial entre homens e mulheres pode atingir até 53%, sendo que nas profissões da área de saúde, esse valor é de aproximadamente 43%.
Por que o salário de mulheres são menores que de homens na medicina veterinária?
Diz-se que os homens médicos veterinários tendem a administrar melhor os negócios, focando na margem de lucros, o que é muito interessante ao empregador. Já as médicas veterinárias teriam mais dificuldade em negociar salários, e elas tendem a trabalhar menos horas que os colegas do sexo masculino, pois, na maioria das vezes, acumulam suas atividades profissionais com a maior parte do trabalho doméstico, bem como absorvem a maior parte dos cuidados com filhos e pais (idosos). Muitas vezes, as obrigações domésticas são mal divididas entre os membros do casal, o que sobrecarrega as mulheres.
Outro fator importante está relacionado à falsa ideia de que o homem é mais capaz que a mulher. Em outras palavras, mesmo que ambos tenham o mesmo grau de experiência e currículos equivalentes, há uma maior preferência por contratar profissionais do sexo masculino.
E mesmo que não haja dados referentes à realidade brasileira, não nos espantaria a existência de desigualdade salarial entre médicas veterinárias e médicos veterinários, aqui em nosso país.
Colega veterinária, você já perguntou a seu colega com a mesma experiência que você e ocupando cargo equivalente ao seu, quanto ele ganha?