Você clonaria seu gato?

Em fevereiro de 2018, a cantora e atriz Barbra Streisand relatou que tem dois clones de sua amada cadela Samantha, a qual morreu recentemente. Por mais bizarro que isso possa parecer, pessoas estão, sim, buscando o serviço de empresas que produzem seres geneticamente idênticos a seus animais de estimação queridos. A técnica de criar um indivíduo completo, geneticamente similar a outro, é chamada de clonagem reprodutiva, e o processo foi abordado em diversos filmes (“Star Wars”), séries (“Orphan Black”) e até em novelas brasileiras (“O Clone”).

Como um clone pode ser produzido?

Há vários métodos para se produzir seres idênticos, e um deles tem o nome de Transferência Nuclear de Células Somáticas (TNCS). Foi assim que a mascote da clonagem, a ovelha Dolly, foi produzida. Essencialmente, retira-se o núcleo (parte da célula que contém o material genético) de um óvulo (pertencente a uma fêmea qualquer) e, no lugar antes ocupado por aquele núcleo, insere-se o núcleo de uma célula somática (célula sem função reprodutiva, ou seja, nem óvulo nem espermatozóide) proveniente do animal a ser clonado (doador). Um pequeno pulso elétrico, então, faz com que o núcleo celular da célula somática do doador penetre no óvulo “vazio” e estimule a multiplicação celular, levando à geração de um embrião. Posteriormente, o embrião gerado é implantado no útero de um terceiro animal, e essa fêmea servirá de incubadora para o animal clonado.

Que outros animais já foram clonados?

Depois da ovelha Dolly, diversos outros animais foram gerados através de clonagem. Em 2001, foi clonado um gato doméstico, “CopyCat”. Em 2005, foi clonado o primeiro cão, “Snuppy”. Até mesmo uma espécie de cabra selvagem extinta (íbex-dos-Pireneus) já foi clonada, em 2009, mas o clone morreu logo após o nascimento.

Os animais clonados se comportam da mesma forma que os originais?

Deve-se entender que o comportamento de um animal depende basicamente de dois fatores: genético e ambiental. O animal clonado só possui a mesma identidade genética. Até mesmo o ambiente uterino regula a expressão gênica do embrião. Certamente, o ambiente em que o animal clonado vive vai contribuir para o desenvolvimento de sua personalidade e seus comportamentos, de modo que um clone não é réplica fiel do original, quando o assunto é comportamento.

Por que as pessoas clonam seus animais queridos?

Elas têm a ilusão de que conseguirão eternizar o animal de que tanto gostam. Algumas acreditam que o medo da perda possa ser diminuído com a substituição do animal querido por outro geneticamente similar, ou seja, um clone. Outras gostam tanto daquele animal que querem outro “exatamente igual” .

O que nós achamos disso?

Nossas considerações: 1) No processo de clonagem de mamíferos, fêmeas são usadas como barriga de aluguel. 2) Ignora-se, com a clonagem, o fato de que os animais têm personalidades únicas. 3) Com essa proposta ilusória de eternizar seres queridos, a técnica de clonagem pode se banalizar e logo poderemos encontrar clones humanos. A clonagem reprodutiva de humanos é proibida nos Estados Unidos e em diversos países. No entanto, muitos outros não possuem nenhuma legislação sobre este assunto. No Brasil, a técnica foi proibida em 2005 (Lei 11105/05). É possível encontrar empresas que dizem fazer clonagem humana. A empresa Clonaid relata que foi responsável pelo primeiro clone humano, chamado Eve. Entretanto, não há nenhum registro que comprove a existência de Eve.

E você, o que acha?

Texto: Isabelle Tancioni

Referências:

https://variety.com/…/barbra-streisand-oscars-sexism-in-ho…/

The Science of Orphan Black. The official companion. Casey Griffin and Nina Nesseth, 2017.