Setembro Amarelo

O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. Foi criado no Brasil em 2015 pelo CVV (Centro de Valorização da Vida)CFM (Conselho Federal de Medicina) ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), com a proposta de associar à cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro). Ao considerarmos a relevância do assunto no exercício da medicina veterinária é fundamental reservarmos um espaço para a discussão.

A maior ocorrência do suicídio nos profissionais médicos veterinários quando comparados com outras profissões vem sendo observada pelos casos que ganham a mídia, mas corroborados, principalmente, pelas publicações científicas dos últimos anos.

Esse fenômeno foi observado em vários países e, provavelmente, no Brasil não deve ser diferente e em tempos de crise econômica e sanitária o problema deve ganhar maior atenção. As pesquisas apontam os vários fatores predisponentes e que as características específicas da profissão provavelmente contribuem para um número maior do que o esperado de mortes por suicídio entre veterinários. São identificados as longas jornadas de trabalho, sobrecarga de tarefas e responsabilidades, expectativas e reclamações de clientes, baixa remuneração,  procedimentos de eutanásia, acesso a drogas, entre outros. 

Alguns dos fatores são comuns a outras profissões, mas de fato o acesso a medicações anestésicas e a questão da eutanásia são bem particulares. Mas foi a eutanásia que despertou meu interesse há anos atrás, seja pelo desconforto que sofria ao realizá-las ou pelos anos de docência quando testemunhei, na rotina hospitalar, muitas vezes, o dilema e o choro de jovens alunos e residentes. Em 2011 escrevi um artigo sobre os efeitos psicológicos da eutanásia na prática da medicina veterinária e hoje afirmo com convicção que esse é um dos principais fatores dos elevados índices de suicídio entre os veterinários.

O caso da jovem veterinária de Taiwan que suicidou-se após sacrificar centenas de cães é emblemático. O fato da maior ocorrência em mulheres também, pois está diretamente relacionado com a empatia pelo sofrimento dos animais. A eutanásia, em geral, é um tema tratado sob os aspectos técnicos e farmacológicos, com mínima ou nenhuma reflexão do ponto de vista moral. Isto sem falar das práticas de abate e “descarte” de animais de produção. Tradicionalmente os cursos de medicina veterinária se esforçam para que esses temas mais delicados não tenham espaço frente ao tecnicismo. De uma processo quase natural decorre o fenômeno da dessensibilização, mas não sem um elevado custo emocional, mesmo que inconsciente. 

Por óbvio que para exercer a profissão será necessário algum grau de dessensibilização para o enfrentamento das dificuldades impostas, das frustrações e inevitáveis perdas de pacientes. No entanto, também deve ser ensinado nos cursos que não é vergonha alguma sofrer com a morte de um animal, que o profissional deve evitar ficar exposto a uma rotina com muitas eutanásias, que deve procurar conversar sobre o assunto se estiver desconfortável, saber que pode se recusar a realizar a eutanásia, enfim, discutir o tema com a importância que merece.