A conexão entre a crueldade de éguas prenhas e a produção de bacon e outros alimentos de origem animal

Para garantir a geração de muitos animais que são destinados ao consumo humano, fazendas industriais necessitam que as fêmeas dessas espécies de animais produzam o maior número possível de indivíduos.

Para tal, a indústria de alimentos de origem animal lança mão de um importante componente, o qual é retirado de éguas prenhas: trata-se do hormônio conhecido como Gonadotrofina Coriônica Equina (ECG, do inglês “equine chorionic gonadotropin”) ou gonadotrofina do soro de égua gestante (PMSG, do inglês “pregnant mare serum gonadotropin”). Os maus-tratos vivenciados por essas mães equinas e pelas futuras mães de outras espécies exploradas pela indústria de alimentos são pouco discutidos em nosso meio. Nesse dia, contudo, onde se comemora o Dia das Mães, faz-se necessário refletir no sofrimento desnecessário de muitas fêmeas de animais envolvidas na produção de bacon, pernil, carne, leite e tantos produtos de origem animal.

Hoje, dedicamos esse texto a todas as mães esquecidas, invisíveis e marginalizadas por nós humanos, em especial às éguas que são responsáveis por aumentar os lucros da indústria de produtos de origem animal, ao garantir aumento da fertilidade de fêmeas de outras espécies.

Cavalos e produção de alimentos de origem animal

Muitas pessoas pensam que cavalos têm uma vida melhor que outros animais que vivem na fazenda. No Brasil, cavalos podem ter diversas finalidades como: auxiliar no trabalho agrícola, transporte, esporte, competição, companhia, entretenimento e alimento, porém nenhuma dessas circunstâncias isentam os cavalos de maus-tratos. No Brasil, há abatedouros destinados a produção de carne de cavalo; e em 2016, o Brasil exportou mais de 3 mil toneladas de carne cavalo para diversos países: Bélgica, Holanda, África do Sul, Tailândia, Vietnã e Japão. 

Além disso, éguas prenhas são usadas para a produção do hormônio, Gonadotrofina Coriônica Equina, que é gerado durante o período de prenhez. Sabemos que poucas pessoas conhecem o envolvimento da exploração de éguas na cadeia de crueldade associada à produção animal. Esse tema foi abordado pela médica veterinária Martha Klimczak durante a Conferência de Dilemas Éticos no Ensino de Veterinária, realizada em Varsóvia, na Polônia, em 2018. Ela discutiu sobre o impacto da falta de regulamentação na criação desses animais. Estima-se que até 2050 irá ocorrer um aumento na demanda de 73% no consumo de carne e um acréscimo de 58% no consumo de derivados do leite. Esse aumento no consumo dependerá da eficiência na produção proveniente de fazendas industriais, que está associada a maus-tratos e abate de diversos animais, como também, à crueldade envolvida na produção de hormônios de éguas prenhas. 

 

O que é Gonadotrofina Coriônica Equina e como é usada?

A Gonadotrofina Coriônica Equina produzido pela placenta de éguas. Ele é extraído do sangue que é coletado durante o período entre 40 a 120 dias de gestação. Depois purificado, esse hormônio é usado com intuito de aumentar a fertilidade de animais de várias espécies de animais como porcos, gado destinado a produção de leite e carne, ovelhas e cabras. Seu uso é amplamente difundido em países de climas temperados e sua administração pode ser empregada para indução da ovulação e também para superovulação em protocolos de transferência de embriões, para a sincronização de estro e assim resultar em um manejo mais eficiente de animais e em protocolos de inseminação artificial de gado.

 

Fazendas destinadas para a coleta de sangue de éguas prenhas

Os cavalos devem receber cuidados veterinários básicos e regulares que incluem: tratamento dos cascos e dentes, vacinas de rotina, tratamento com parasiticidas, avaliação da escore de condição corporal e recomendação de nutrição adequada. Infelizmente, não são todos os cavalos que recebem esses cuidados rotineiramente; e as éguas destinadas à produção de Gonadotrofina Coriônica Equina são desprovidas dos mesmos.

Uma investigação que se iniciou em 2015, realizada pela Animal Welfare Foundation (Fundação de Bem-Estar Animal), indicou que mais de 10.000 éguas são criadas em condições de maus-tratos em fazendas da Argentina e Uruguai. Sabe-se que essas fazendas existem há mais de 30 anos. O dossiê resultante dessa investigação mostrou que a boa parte do hormônio produzido pelas éguas são destinados para promover a fertilidade dos porcos em países europeus. Esses tipos de fazenda também existem em territórios de outros países, como Islândia, Rússia, Mongólia e China.  

Não há diretrizes para a coleta de sangue de éguas prenhas e portanto, a quantidade de sangue coletado e a frequência de coletas não são uma preocupação para as partes envolvidas nesse negócio. Por um período de onze a doze semanas, dez litros de sangue são retirados das éguas com a frequência de uma vez a duas vezes por semana. Durante a coleta, muitos desses animais são manejados de forma brutal e cruel, e consequentemente muitas éguas se ferem durante o processo. Não há cuidado com o manuseio e limpeza dos materiais de coleta, resultando hematomas e outras injúrias nos animais. Filmagens referentes a investigação da Animal Welfare Foundation mostram que muitas éguas apresentam-se muito magras devido à falta de cuidados, ao alto nível de estresse e dor decorrentes aos maus-tratos e também, ao enfraquecimento ocasionado pela alta perda de sangue durante a gestação. Estima-se que aproximadamente 30% das éguas morram por ano nessas fazendas. Apesar dessas denúncias, os abusos e maus-tratos aos animais continuam. 

Como a intenção é produzir hormônio e não potros, normalmente nas fazendas da América Sul, as gestações das éguas são interrompidas e dessa maneira garantir que as éguas possam gerar mais hormônio em uma futura gestação, culminando em  2 ciclos de extração de hormônios por ano.

 

Como combater essa indústria

Primeiro, tenha conhecimento sobre a existência dessa rede de crueldade que envolve várias espécies de animais. Segundo, compartilhe as notícias relacionadas ao assunto. Terceiro, reveja seus hábitos e questione como seus hábitos estão associados ao sofrimento dos humanos e de animais de outras espécies. Quarto, seja empático com mães humanas e com mães de outras espécies, estenda seu círculo de compaixão, considere o veganismo e seja solidário. 

Dê um abraço bem forte na sua mãe se você puder por nós (vale virtual também). 

Muita saúde e se puder, fique em casa!

Fontes 

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